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16-09-2012 21:22
Economia
Doença transmitida por inseto vetor propaga-se em vinhedos do Vale do Lima

A escassos dias de se iniciar mais uma época de vindima, os produtores do Vale do Lima andam alarmados com o alastramento da flavescência dourada, doença disseminada por um inseto. Segundo João Pereira, engenheiro da Adega Cooperativa de Ponte da Barca (ACPB), “a doença está localizada em vinhas abandonadas ou semiabandonadas”, sendo provocada por um vírus (o fitoplasma) que tem como transmissor um inseto da família das cicadelas, o Scaphoideus titanus Ball (STB), vulgarmente conhecida por cigarrinha. Esta doença – que alastrou a toda a região dos vinhos verdes – origina uma diminuição progressiva do rendimento da vinha, podendo causar, em apenas três/quatro anos, a morte das videiras.
A doença – flavescência dourada – é transmitida de uma cepa a outra através do inseto vetor. É este inseto que faz a propagação da doença. Sempre que este inseto se alimenta de uma videira infetada com o vírus, o vetor desencadeia uma reprodução do vírus em todas as vinhas que sejam picadas.
O insecto Scaphoideus titanus Ball (STB) é o vetor da doença, mas o que provoca a morte das videiras é o vírus da flavescência dourada. Segundo o técnico da ACPB, a transmissão da doença só acontece porque há duas condições propiciadoras: videiras com flavescência dourada e existência do inseto STB, “que através das suas picadas de alimentação nas folhas transmite a doença às plantas sãs”.
Como não há tratamento para o vírus da FD, “as videiras contaminadas acabam por morrer ao fim de três/quatro anos”. Acresce que a doença acarreta uma “diminuição drástica da produção vinícola”.
A deteção do vírus na videira é tudo menos fácil, pois a coloração amarelada que a caracteriza confunde-se com outras doenças. No caso das castas brancas, “as folhas ficam com uma cor amarela dourada; já nas castas tintas, as folhas ficam avermelhadas”. Existem, porém, outros sinais a ter em conta, nomeadamente as folhas enroladas sobre a página inferior, em forma de telha; o endurecimento das folhas; as quebras qualitativas e quantitativas da produção; o atraso na rebentação; a dessecação dos rebentos e a mortalidade parcial ou total da cepa.
As medidas de controlo e erradicação da doença “envolvem o controlo do respetivo inseto vetor, pois nada há a fazer contra o vírus”. Há “tratamentos inseticidas que podem controlar o inseto, além das medidas profiláticas – ter o cuidado de, durante a campanha, marcar as videiras contaminadas para as arrancar e queimar”. O arranque, puro e simples, é, de resto, um método de prevenção e combate complementar ao inseticida (que tem efeitos prejudiciais à fauna auxiliar).
Segundo aquele responsável, são cada vez mais os vinhedos velhos infetados nos concelhos de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca. Sensibilizar os viticultores para o impacto desta doença em vinhedos contínuos, pois “a sua propagação é devastadora”, foi o primeiro passo das associações vitivinícolas.
Sem técnicas de cura ou de combate à doença, a flavescência dourada leva ao corte irremediável das vinhas doentes. Para minorar o impacto da doença e travar o contágio no futuro, “os produtores estão na expectativa de que as autoridades locais e regionais do Ministério da Agricultura ajudem a pressionar o Governo no sentido de se tomarem medidas”, explica o técnico da Adega Cooperativa de Ponte da Barca.
O fenómeno da flavescência dourada, que resulta também do crescente abandono da atividade agrícola, associado ao final do período do ciclo da vinha, vai originar um decréscimo significativo da produção de uva para vinho verde. De resto, outra das preocupações dos viticultores prende-se com a rentabilidade da exploração, diretamente relacionada com o preço das uvas praticado ao nível nacional e com o aumento substancial do preço dos fertilizantes e fitofármacos.
No seio dos produtores, a conjuntura económica muito desfavorável, resultante, em boa medida, da falta de poder de compra vai acarretar “um acumular de stock de vinho, logo não haverá grande espaço de manobra relativamente aos preços praticadas pelos vinhos e pelas uvas”, antevê João Pereira.

Maturação e safra da uva
A maturação das uvas está significativamente mais atrasada para a época em causa, embora em fase idêntica à que é considerada normal para a região do Vale do Lima. De acordo com João Pereira, “poderemos ter uma campanha com níveis de teor alcoólico ligeiramente mais baixos do que os do ano anterior, o que não é mau de todo, pois o mercado (consumidor) está a optar cada vez mais por vinhos com menor teor alcoólico”, explica o técnico.
Relativamente à safra, a Adega Cooperativa de Ponte da Barca mantém a expectativa de uma “campanha normal com uma quantidade menor do que a de 2010, indo de encontro à média dos últimos seis anos”. No que diz respeito à qualidade da produção de uva desta campanha, “se as condições climatéricas se mantiverem até final da vindima com tempo seco e quente, muito certamente iremos ter uma campanha com uma qualidade idêntica à do ano anterior, isto é, vinhos brancos e rosados aromáticos e muito frutados e vinhos tintos com boa intensidade de cor, frutados e encorpados”, vaticina João Pereira.

Por:Armando Fernandes de Brito
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