Arquivo: Edição de 24-11-2011

Opinião

Página 4
Paulo Castro Se existe uma imagem que pode ilustrar um quadro das nossas aldeias, nos dias de hoje, essa imagem passa por escolas com os recreios invadidos pela erva daninha, por casas com estores corridos, por campos a “velho” e pelo reduzido movimento nas estradas e caminhos.

Quentes e Boas...
Amândio Peixoto O Medo

Conto
A arriba
Maria Paula T Q Barros Pinto Desceu a encosta até à praia, o vento norte soprava em rajadas fortes que lhe tiravam o fôlego. A areia entrava-lhe pelos olhos, pelo nariz, pela boca… Que maçada, o vento! Os salpicos das ondas a bater nos rochedos encaracolavam-lhe o cabelo ruivo que, emaranhado, parecia a peruca do palhaço pobre. Dobrada sobre si continuou a caminhar na direção da enseada onde os pescadores guardavam os barcos. Hoje não tinham saído para o mar, entretinham-se a remendar as redes, a secar o peixe, a reparar os apetrechos da pesca; alguns barcos quase feridos de morte. As gaivotas em terra ameaçavam tempestade. Só o seu vulto, curvado, a enfrentar o vento, se distinguia na praia. Mas tinha de ir, não podia adiar mais aquela conversa. Já o devia ter feito há muito.

Crónica
A lida
Paula Castro Freire As dores fazem-na curvar para a frente e para trás na esperança de que o movimento aligeire o sofrimento. Já não sabe se lhe dói mais o físico ou a alma, andar três horas curvada em movimentos prejudiciais é no que dá, e doem demais na alma porque já lá vai o tempo em que não precisava de fazer este trabalho. Nessa altura usava o tempo para ser criativa, desenhava muitos projectos que depois de uma triagem só muito poucos eram executados, e ainda bem, é preciso coragem e sensatez para se deitar fora algumas ideias tidas à partida como geniais.